Receitar um ansiolítico ainda não é o mesmo que
receitar um livro, mas só porque o último não exige um papel com a assinatura
do médico. De resto, é em tudo igual. A ideia se iniciou no mês de Abril, e faz
parte da campanha Reading Well for Young
People (ler bem para gente jovem), na Inglaterra.
Membros do Royal
College of Psychiatrists, da Mental
Health Foundation e da Public Health
England ajudaram a criar a lista de 35 títulos que incluem histórias reais,
livros de auto-ajuda e outros, de ficção. Isso quer dizer que, agora, médicos
de clínica geral, psicólogos ou enfermeiros podem recomendá-los. Servem para
complementar outros tratamentos e terapias, mas nunca para substituir os
anteriores, lembra a The Reading Agency
(agência da leitura). A iniciativa é da organização solidária que acredita que
é possível viver melhor através das histórias. “A missão é inspirar as pessoas
a lerem mais, encorajá-las a partilharem o seu gosto pela leitura e a
celebrarem a diferença que faz nas nossas vidas”, explica à SÁBADO Debbie
Hicks, diretora criativa.
Na Grã-Bretanha, um em cada 10 jovens tem um
problema mental diagnosticado e há cada vez mais adolescentes deprimidos,
lembra a organização. Por isso, as sugestões de leituras são indicadas para
problemas específicos como o bullying,
a ansiedade ou o stress, o comportamento obsessivo-compulsivo e distúrbios como
o autismo e outros desequilíbrios alimentares ou de imagem e auto-estima.
Aumentar a
baixa auto-estima
The Perks of
Being a Wallflower (As Vantagens de Ser Invisível), de Stephen Chbosky, por
exemplo, é indicado para a ansiedade. A história é narrada por um rapaz
introvertido e segue as suas inquietações enquanto tenta descobrir quem é. “Dá
uma perspectiva positiva do mundo dos jovens, das suas ansiedades e problemas
de baixa auto-estima”, adianta Hicks. Aumentar o conhecimento, desenvolver a
empatia e aprender a ser resiliente é o que um livro bem escolhido pode fazer.
As leituras podem ser recomendadas por
profissionais de saúde, mas também estão disponíveis online (readingagency.org.uk) para os pais ou
para qualquer jovem que procure ajuda sozinho. Os livros estarão de forma
gratuita nas bibliotecas públicas que se associaram à iniciativa.
Este não é um projeto totalmente novo para a Reading Agency, que tem ajudado adultos
com doenças mentais e demência. Nos últimos dois anos já terão chegado a meio
milhão de pessoas. Num pesquisa recente, com uma centena de indivíduos
consultados, concluíram que a iniciativa teve bons resultados: 90 por cento
admitiu ter achado a leitura proveitosa, enquanto para 75 por cento o livro
ajudou a gerir melhor as dificuldades da sua condição. Foram os pacientes com
demência quem mais recorreu à iniciativa: as requisições de livros aumentaram
346 por cento.
Maria Espírito Santo, no Sabado
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