A reflexão necessária
é de que há uma espécie de preconceito aberto e declarado, como se chamar o
povo de burro fosse regra, ou que as pessoas não compram livros nem leem aquilo
que certa elite gostaria porque são ignorantes. Também há a hipótese de que a
desinformação sobre o mercado do livro e os índices de leitura seja gigantesca,
e que mesmo bons jornalistas e profissionais da comunicação têm dificuldade em
encontrar dados que derrubem esse conceito, ou preconceito, sobre os índices de
leitura.
População
Não podemos,
porém, deixar de observar que para o tamanho do país e da população; se
comparados a vizinhos como Argentina, nossa leitura per capta é de fato tímida.
E que a leitura
poderia ser melhor, visto, por exemplo, a ausência de leitores com seus livros
abertos em lugares públicos como em metrôs e ônibus. Mas, para isso, é bom não
esquecer que nas universidades muito ainda se usa; infelizmente, as tais cópias
“xerox”, como substituição ao livro, e que essas cópias não entram nos números,
tampouco cálculos estatísticos; ou sequer passam nos olhos ávidos de quem
procura um leitor de livro aberto numa estação de metrô.
Lemos
mal
Em verdade, e
aqui uma opinião mais do que honesta, é de que embora leiamos muito a realidade
é de que lemos mal, e muito mal. O fato de encontrarmos livros infanto-juvenis
adotados em escolas com erros de pontuação e histórias frouxas; ruins, é um
comprovador.
Também é comum
encontrar autor que se autopublica dizendo vender bem a cada nova tiragem ou
novo título; e depois descobrirmos que seus leitores; e eles existem como se
comprova na gráfica ou nas vendas pelo KDP da Amazon; não percebem como fracas
são suas histórias e como confusos são seus pensamentos ou mesmo a organização
do seu texto.
Livros
Há, também,
nesse deserto do texto ruim, livros impressos fora do país mas vendidos a
preços impressionantemente baixos, livros estes muitas vezes com histórias
sofríveis e ilustrações deprimentes.
E ainda há os
títulos traduzidos às pressas ou por maus tradutores; e aqui entra a literatura
adulta de qualquer área; como outro sinal da má qualidade do que chega ao
leitor; que, por sua vez toma aquilo como uma média do que pode ser escrito e
do que deve ser lido. Em outras palavras, o referencial do que é bom em escrita
e leitura, no Brasil, é um desespero de tão ruim.
Em outros
artigos defendi e sigo defendendo a importância da escrita criativa e suas
oficinas, pois; como referência, nos EUA pós-guerra; esse foi um dos
instrumentos para não só movimentar o mercado norte-americano como por outro
reforçar a educação fora das escolas.
Brasil
Enquanto isso,
neste Brasil continental de história tão amiga à elites que preferem a
escravidão à liberdade; talvez não devesse soar estranho afirmar que o povo
brasileiro simplesmente não lê porque é ignorante.
Mas não sou da
elite, sou do povo, do estudante da escola pública, e dos otimistas; pois gosto
de pensar que apesar das elites e de nossa história de golpes e massacres, o
povo ainda lê, e ainda quer ler mais e melhor. E, quem sabe, talvez aí esteja a
tarefa dos editores; autores e agentes do mercado: superar o preconceito e
fazer mais e melhor pelo leitor brasileiro.
Paulo Tedesco, é escritor, consultor e professor de produção escrita editorial.
Fonte: Correio do
Brasil
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