O título deste Artigo não lhe causou
algum tipo de comoção? Você pode ter pensado: como não é importante? O que o
autor está querendo dizer? Certo. É só para chamar a sua atenção, porque você
sabe que a leitura é importante. Ponto. No entanto, muitos não dão a devida
importância. E nesses muitos podem-se incluir pessoas e o poder público. No
quesito pessoas, pelos números de pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro,
44% da população brasileira não lê e 30% nunca compraram um livro. Conforme
dados do Inaf (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional), divulgados em
julho deste ano, 29% da população brasileira se encontra na faixa de
analfabetismo funcional.
Quanto ao poder público, grosso modo,
a conversa parece que não é com esse segmento. Para que leitura, se o problema
é saneamento básico, infraestrutura, segurança etc e tal? Sempre os velhos
problemas, que nunca são resolvidos, entra governo, sai governo. Por que,
então, a leitura não é prioridade? Porque com e por ela o cidadão adquire a
capacidade de pensar por si só, inicia longa trajetória rumo à criticidade,
quando começa a perceber, por exemplo, os conchavos existentes nas esferas do
poder, as barganhas que existem no âmbito político, quando um partido,
autoproclamado defensor do antiqualquer coisa, faz acordo velado com esse
antiqualquer coisa, a fim de garantir governabilidade, em troca de cargos.
O quê? Sim, a leitura desmascara os
véus da hipocrisia, pois a pessoa que tem o profundo hábito de ler, lê, antes,
a vida, o mundo que a cerca, pois a leitura do mundo precede a leitura da
palavra, conforme a máxima de Paulo Freire. Pela leitura você depreende as
verdadeiras intenções das pessoas, consideradas lobos em pelo de cordeiro.
Porque a leitura faz com que você pense, analise, reflita sobre, pois reconhece
que uma fábula não é senão lição a respeito de acontecimento que não poderia
ser dito de outra maneira. A leitura aproxima as pessoas. Que livro você está
lendo? Puxa, que legal, ainda não li, me empresta ele? É utopia ou isso
acontece?
Por que as ações quanto à prática de
leitura não são otimizadas pelo poder público? Quantos indivíduos participam de
clubes de leitura nos municípios (quando há)? São divulgados? Só há divulgação
quando há interesse. Porque, convenhamos, a leitura de texto literário ou de
texto teórico muda nossa maneira de ver o cotidiano, a vida, o entorno, nos faz
questionar até a nossa própria existência: o que estamos fazendo aqui?
Eu, que sempre escrevi sobre produção
de texto, não poderia deixar de render homenagem à leitura, pois são faces da
mesma moeda. Sem leitor, não há escritor; sem leitura, não há ser humano digno.
Sérgio Simka é doutor em Língua Portuguesa, professor,
escritor e leitor.
Fonte: Diário
do Grande ABC
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