Deus existe ou seria a fé religiosa um delírio universal?
O Ceticismo da Fé foi escrito por Rodrigo
Silva, graduado em Teologia e Filosofia. Ele também possui mestrado e doutorado
em Teologia, especialização em Arqueologia pela Universidade Hebraica de
Jerusalém e doutorado em Arqueologia Clássica pela USP.
O doutor Rodrigo Silva é curador do Museu de
Arqueologia do UNASP e apresentador do documentário Evidências, transmitido
pela TV Novo Tempo.
O ceticismo da fé era um livro que eu queria
muito, li em 2020 e foi uma das minhas melhores leituras. Quando eu olhava para
esse livro grosso de 580 páginas, eu imaginava que seria uma leitura difícil,
que seria necessário muito tempo para entender... Mas não foi.
Nessa leitura eu senti como se tivesse batendo
um papo muito agradável com o autor. E esse foi o propósito dele, falar de um
conteúdo sério que aborda religião e filosofia, mas de forma leve, amigável,
sem preconceitos, propondo um diálogo com o interlocutor.
Esse livro é indicado para religiosos que
querem conhecer bases filosóficas e históricas para alicerçar suas crenças.
Também é indicado para ateus, que podem ler com o objetivo de refinar suas
próprias argumentações.
O insight para escrever a obra partiu de uma
afirmação de René Descartes que diz o seguinte: “o homem deve desconfiar de
tudo para poder acreditar em alguma coisa”. E assim o livro foi construído,
partindo do princípio da dúvida, traçando argumentos para sustentação da fé em
Deus.
Mas não pense que esse livro é sobre um
teólogo tentando provar a existência de Deus, nada disso... Até porque Deus é
improvável, se Deus fosse provável ele estaria mais para teorema do que para
pressuposto, logo caberia dentro da mente humana e não seria grande o bastante
para ser Deus.
Isso aqui é uma conversa sincera e aberta, sem
fugir dos grandes problemas que envolvem a fé em Deus, como por exemplo:
“Porque um Deus de amor matou e mandou matar tanta gente no Antigo Testamento?”
“Se Deus existe e é amor, porque ele permite tanto sofrimento no mundo?”.
O autor não tem medo de tocar em problemas sérios
que envolvem os próprios religiosos, como a corrupção de pastores que muitas
vezes parecem trabalhadores do supermercado da fé em que curas e bençãos são
prometidas em troca de dízimos e ofertas. Ele fala sobre as complicações das
comunidades de crentes, as igrejas: “a igreja pode ter um papel de
relevância ou obstáculo no diálogo com aqueles que não creem”.
Isso me lembrou uma ideia do professor Mario
Sérgio Cortella em que ele diz: “Religião não é coisa de gente tonta, mas de
gente. Tem gente que é tonta e gente que não é. Existe gente tonta na docência,
no jornalismo, na política.”
Como o Rodrigo escreveu: “Há muitos
descrentes honestos e religiosos perigosíssimos”. Se a sua crença em Deus
não faz de você uma pessoa que busca a integridade, não sei que diferença essa
crença faz no mundo.
É fácil acompanhar a linha de raciocínio do
autor, mesmo falando sobre um assunto tão complexo ele tem uma linguagem muito
clara!
Eu destaco aqui duas partes que foram as
minhas favoritas no livro! A primeira diz respeito ao capítulo sobre diferença
entre ser existir. Parece simples dizer: Deus existe ou Deus não existe. Mas o
que é existir? Como sabemos que as coisas existem? Por que vemos? Tem muitas
coisas que não vemos, mas que existem. Eu gostei muito dessa discussão e não
vou entrar em detalhes para que vocês ficarem curiosos e lerem o livro.
A minha outra parte favorita é quando ele fala
sobre a Bíblia, porquê temos motivos para acreditar. Dentre os inúmeros motivos
que envolvem fatores históricos, ele levanta a discussão sobre a Bíblia ser um Bestseller
ou um Clássico.
Bestseller, significa mais vendido, é um livro
considerado extremamente popular, um livro feito para agradar um público
chamado pelos críticos de semicultos. A Bíblia é o livro mais vendido, portanto
um bestseller; porém ela não tem características de um bestseller, Rodrigo
Silva a chama de “bestseller inconteste”. Levou tempo demais para ser escrita,
é extremamente inconsistente em termos de estilo redacional e muito variada em
termos de qualidade, o que já era de se esperar já que foi escrita por mais de
40 autores. É consenso que o grego utilizado para escrever a bíblia não foi o
grego clássico, e sim a forma mais comum, sem muita sofisticação.
Um livro clássico é aquele que perpassa
através do tempo. Os bestsellers vendem muito mais, enquanto o clássico vende
menos, porém perdura mais tempo na cultura. Além disso, livros clássicos
possuem um apelo estético e uma mensagem significante. É o tipo de história que
chama primeiro a atenção dos intelectuais antes de chamar a atenção do povo. De
forma alguma é escrito de uma maneira gramaticalmente pobre. A Bíblia não se
encaixa nesses requisitos, mas ela tem perdurado através do tempo.
Eu aprendi muito com este livro. Temos aqui
uma busca histórica e antropológica sobre as origens do Ateísmo. O que você
acha que é mais antigo a crença ou a descrença em Deus? Pensando de uma forma
lógica já dá para saber que a crença em Deus é mais antiga, porque primeiro tem
que haver uma afirmação para que você possa negar. Não tem como você negar algo
que não foi afirmado anteriormente.
Tem um capítulo cujo título é: “Ninguém
escapa da transcendência”. Esta parte fala como nós seres humanos temos
sede por significado. Crentes ou descrentes em algum momento da vida pensam em
qual é o sentido da existência. Será que a vida é apenas o intervalo entre duas
datas: nascimento e morte? Qual o sentido disso?
Nós não somos imortais, no entanto mesmo assim
não queremos deixar de existir... Crentes ou não, todos nós buscamos uma
alternativa para a morte, tentamos adiá-la ao máximo.
O que me lembra uma afirmação do meu autor
favorito o C. S. Lewis: “As criaturas não nascem com desejos, a menos que
exista satisfação para eles. Um bebê sente fome: bem, existe uma coisa chamada
comida. Um patinho quer nadar: bem, existe uma coisa chamada água. (…) Se eu
encontrar em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode
satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo.”
A crença ou a descrença em Deus não é algo
simples, a menos que você fique na superficialidade das ideias, por isso um
livro como esse é tão importante. Ele parte da dúvida, do questionamento. Tanto
para crentes como ateus é necessário ter bases sólidas para firmar nossas
posições. E também para sabermos silenciar e dizermos simplesmente “não sei” ao
invés de falarmos bobagens.
Resenha escrita por
Elen Ximenes
Título: O Ceticismo da Fé
Autor: Rodrigo Silva
Editora: Ágape
Número
de Páginas: 589
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